Auto-Retrato



    Enquanto as pessoas se movimentavam indo para direções diferentes, um homem se destacava entre todos, era alto e de cabelos escuros, estava parado enquanto olhava para um misterioso quadro, que por sinal não havia absolutamente nada de interessante nele, a primeira coisas que ele pensou foi “O que isso deve significar? Acho que é só mais um daqueles casos em que o artista faz algo sem sentido, e fala que há algo muito profundo por trás”. Porém não conseguia parar de olhar era como se algo estivesse dentro, o chamando. Algo que era obscuro e vazio, não talvez fosse apenas a imaginação falando mais alto, então uma voz feminina surgiu do seu lado dizendo o seu nome em um tom normal, mas com toda a sua atenção voltada para o objeto, não ouviu na primeira vez, segunda e terceira, então elevou a sua voz falando mais alto e claro, se assustando olhou para sua direita de onde tinha vindo o som, com uma expressão de confuso, se deparou com a sua mulher perguntando: -Você está bem?
    -Sim só estava distraído com esse incrível quadro.
    -Mas não tem nada além da cor preta.
    -Nossa é assim que você pensa? Nunca vai entender a genialidade desse artista que não sei o nome.
    -E nem o homem que o chama de gênio.
    Depois da conversa eles chegaram a uma conclusão, e logo em seguida foram ver as outras partes do museu, sabe havia muitas coisas interessantes que tinham em poucos museus pelo mundo, sendo novas até mesmo para um historiador com anos de profissão… relíquias, estátuas, armas medievais e até mesmo rifles antigos, algumas coisas eram peculiares e outras nem tanto, também tinha uma espécie de corredor gigantesco, cheios de quadros contemporâneas um em cima do outro, se estendendo por metros de comprimento, porém um detalhe curioso aquela arte em especifico não estava no mesmo local, aliais estava em um que não havia sentido, pois em volta tinham os outros objetos. Com curiosidade pelo fato ele decidiu pergunta alguém que trabalhava no museu, andando um pouco e com sorte achou uma pessoa que estava com esse emprego há vinte anos, percebendo os seus cabelos brancos e rugas no rosto, deduziu que a sua idade era em torno dos sessenta, chegando mais perto se apresentou formalmente.
    -Boa tarde, me chamo Eduardo. -Falou estendendo a mão.
    -José. -O cumprimentou antes de dizer o seu nome.
    -O senhor parece trabalhar aqui há bastante tempo, você poderia me dizer um pouco mais sobre o Quadro Negro?
    -Você ficou olhando para ele, por quanto tempo? -O idoso falou com um tom preocupado.
    -Não sei exatamente, mas não fiquei muito tempo, por que está perguntando isso? -Estava começando a ficar confuso com o rumo da conversa, e estranhando cada vez mais as palavras do idoso.
José falou com um sorriso no rosto: -Desculpa por não o responder, mas não sei se você vai acreditar em mim.
    -Não vou saber até contar.
    -Então parece que o senhor tem a mente aberta. Na verdade ninguém conhece a verdadeira origem desse quadro, alguns dizem que o autor pintou depois que perde a sua sanidade, sempre teve idéias fora do normal e nunca foi reconhecido como artista, mas sim como louco. Enfim deixando um pouco essas lendas de lado e indo mais para o lado pessoal, vou dizer que essa obra não fica no corredor de quadros, por causa que muitas pessoas dizem haver uma distorção, transformando os outros quadro em algo horrendo, abominável, e sem esperança.
    -Você já viu isso acontecer? -De repente o seu corpo se arrepiou dos pés a cabeça, ficando intrigado com a misteriosa arte, e por algum motivo misterioso quis saber mais e mais sobre o autor.
    -Felizmente não, porém vi outras coisas tão tenebrosas quanto, que só pensei em ver nos filmes de terror… Sábado era um dia como outro de trabalho, a mesma rotina, até que percebi aquele homem parado no mesmo corredor de quadros, ficou olhando por horas a mesma arte, por alguns segundos vi os seus olhos ficando negros, era como se estivesse sendo possuído por algo maligno, porém foi só por alguns segundos, e mesmo achando anormal aquilo não quis o atrapalhar, mas horas se passaram, nada de ir embora, até que em algum momento tive o interromper chamando pela sua atenção, fiz isso porque o museu estava fechando e ninguém mais poderia ficar, por incrível ele saiu sem falar absolutamente nenhuma palavra. No dia seguinte ele voltou e fez a mesma coisa, isso continuou toda a semana, até chegar no final da sexta, quando chamei o chamei novamente, então pelo meu desespero e angustia percebi portando uma faca, eu não ousava chegar perto temendo por minha vida e com a dele tentei o acalmar, dizendo palavras que deveriam o deixa aliviado, porém parecia que os seus ouvidos estavam tapados, os seguranças não estavam perto, logo não se tornou opção, ele inesperadamente começou ter um surto de psicose gritando apenas uma palavra: “Feios, feios, feios…”. Em seguida apontou a lamina para um de seus olhos e em movimento rápido e cirúrgico o perfurou, não aguentando a dor se jogou no chão e começo a se debater lacrimejando com a sua outra visão, depois disso liguei para ambulância, e nunca mais ouvi falar dele.
Eduardo sem saber se devia acreditar ou não perguntou para o idoso: -Que loucura, tem certeza que foi isso mesmo?
    -Entendo que é difícil de crer em algo desse jeito, ainda mais vindo de uma pessoa desconhecida, mas eu sei o que vi, serei incapaz de esquecer todo aquele sangue que jorrava, e principalmente os gritos de desespero da vitima.
Depois de alguns minutos conversando, Eduardo decide ir para casa com a sua  esposa, e chegando no local foi direto para o computador, vê se encontrava algo que comprovasse o que José tinha falado.
    -Serio Eduardo que você ficou obcecado por aquilo?
    -Aquilo? Como que pode chama uma obra de arte de Aquilo?
    A sua mulher suspirou, como se estivesse decepcionada, e falou: -Ok, então vou para o quarto, não quero atrapalhar você e essa sua obsessão.
    Horas se passaram e ele não tirava os olhos da tela, mesmo não tendo êxito nas pesquisas não conseguia apagar a imagem da sua consciência, até chegar o momento em que começou a ficar cansado, lutava para manter os seus olhos abertos, mas a sua luta não durou muito e pegou no sono, indo para um terrível pesadelo…
    Acordando em lama e sem entender muito bem o que estava acontecendo se levantou lentamente, ainda com o seu rosto sujo, percebeu um cenário de desespero, notou os prédios saindo fumaça. Sim, haviam milhares de prédios saindo fumaça, mas isso não era estranho para a realidade. Quer dizer era teoricamente possível, mas uma certa característica foi a mais assustadora, estavam todos estranhamente de cabeça para baixo, tinham pessoas caindo a cada dois minutos formando uma pilha de cadáveres, os primeiros corpos já estavam se decompondo com vários corvos comendo a carne padre, olhando melhor ao seu redor percebeu uma praia que estava cheia de lixos radioativos, parecia que todas as indústrias haviam feito um deposito nesse lugar, não ligando para todos os seres vivos, o resultado foi obvio, com as areais lotada de peixes baleias e outros tipos de animais, tinham até mesmo criança. Dava para perceber que eram realmente crianças, pelo tamanho dos seus restos mortais, aparentando ter sete a doze anos de idade, olhando para o mar e depois o céu percebeu que a sua cor era vermelha, refletida dos oceanos. E o calor era insuportável, fazendo facilmente a pele de alguém grudar no asfalto, as pessoas estranhamente não tinham os seus olhos, parecendo que elas não queriam  ver tamanha brutalidade, fora que haviam outras bebês nascendo mortos, os que sobreviviam pareciam ter algum tipo de erro genético, fazendo ter debilitação físicas ou mentais, não demorou muito para deduzir que estava no inferno. Inferno? Não Eduardo está enganado, e logo mais tarde perceberá esse fato.
    Ouviu passos vindo de suas costas, quando se virou deparou com uma senhora que escorria sangue pelo o seu rosto onde supostamente estariam os globos oculares.
    -Olá Eduardo. -Disse com um sorriso que parecia ser sincero.
Confuso falou: -Como sabe o meu nome?
    -É porque você olhou para o quadro, antes que me pergunte se isso é um sonho, vou responder “Sim”.
    -Esse lugar é o inferno?
    Balançou a cabeça de um lado para o outro, afirmando a pergunta.
    -Impossível isso não existe, são apenas histórias inventadas por religiões.
    O sorriso no rosto de repente desapareceu, e falou com tom serio que chegou a arrepiar todos os pelos de seu corpo: -Não esse que você está pensando, mas não importa é hora de acordar!
Lentamente começou a levantar a cabeça, o computador estava desligado, então deduziu que devia ter cochilado por mais de uma hora, confirmou quando percebeu os ponteiros do relógio marcando exatamente duas e meia da manhã.
    -Acho que fiquei tempo demais pesquisando por uma coisa inútil. -Falou se dirigindo a cozinha meio tonto por ter adormecido em um lugar não tão confortável. Depois que bebeu água colocou a garrafa de volta no lugar, porém quando fechou a geladeira, ele sentiu uma forte dor de cabeça a sua visão começou a ficar sem foco, por um momento pensou que havia visto aquele maldito quadro sentindo que algo estava preste acontecer, como se estivesse o alertando. Não, melhor dizendo, como se estivesse o chamando para observar aquela terrível escuridão que estava tentando devorar a sua alma, antes dessa sensação desaparecer por completo, em sua frente viu a cor preta tomar diversas formas, muitas estavam no sonho como prédios que seriam fisicamente impossível de estarem daquela posição, cidades apocalípticas, e o que mais chamou atenção pessoas com olhos queimados, apesar disso algumas estavam sorrindo e pareciam felizes, mas outra eram tristes e mórbidas, enquanto os homens que ainda tinham os seus globos oculares, estavam se divertindo sadicamente, logo depois tudo voltou ao normal, e ainda confuso foi deitar-se, junto com a sua mulher e sem perceber acabou a acordando.
    -Você demorou. -Disse com sono.
    Deitado olhando para o teto, falou: -Tive um pesadelo.
Surgiu um sorriso leve no rosto de sua esposa e falou ironicamente: -Sonhou com o autor saindo de dentro do quadro?
    -Mais ou menos isso, para falar a verdade foi com um lugar que parecia o inferno , porém não era. Pelo menos não dá forma que estava na minha cabeça. Era como se há muito tempo atrás fosse o paraíso, e de repente apagam-se as luzes, e quando ligam de novo… Tudo se transforma em puro caos, de uma hora para outra, pessoas felizes começam a sofrer. Esse choque de realidade deve ter sido terrível para eles.
    -Talvez a loucura desse artista foi tão grande ao ponto de destruir o seu único lugar de refugio, por algum motivo queria que as pessoas ao redor vissem a destruição que aquilo se transformou. -Disse ela se virando para o marido.
    Olhando com inspiração para sua mulher falou: -O que leva alguém há loucura? Decepção, solidão, tristeza ou apenas a complexidade de um gênio? Acho que nunca entenderei.
    Conforme o tempo passou os dois pegaram no sono… Mas eu devo parar essa história e entrar em outra… Que foi? Estão curiosos? Querem saber o que aconteceu com Eduardo? Nada que vocês devam se preocupar, depois de voltar para o museu e ter visto a obra de arte, percebeu que não tinha mais nenhum efeito ao olhar, talvez seja porque entendeu o sentimento de insanidade embutido no último quadro do artista? Ou o fato de não ter enlouquecido com aquilo…
    Mas qual é a origem dessa simples pintura? Apesar de ninguém vivo fisicamente saber ao certo, eu sei do inicio meio e fim da história. Alias não só isso, sei de tudo que vai acontecer nesse mundo, e a verdade sobre o que aconteceu, até mesmo os nomes das pessoas que ainda virão.
1880 um homem chamado Tomás era conhecido como uma pessoa quieta e pensativa, sua fama como pintor era pouca, e até mesmo negativa, porém ele não dava ouvidos para as pessoas que só queriam o seu mal. Ou pelo menos fingia não dar, claro, como poderia? Se quase todas as vozes martelavam em sua cabeça, o chamando de “louco” pelas as suas idéias e dá forma que enxergava o mundo. Medo, afinal de contas é o sentimento mais forte dos seres humanos que gera ignorância. E o mais forte de todos os medos é do desconhecido.
    Quando era criança os seus pais percebiam em seu comportamento que ele tinha uma certa estranheza, tempo se passou e não mudava o seu jeito de ser, então a sua mãe tentou procurar ajuda, depois varias tentativas ela só piorou as coisas o deixando mais ainda no seu mundo, para Tomá os seus pensamentos eram o seu refugio que nunca iria ser derrubado, as perguntas sem respostas da vida e até mesmo sobre si próprio o faziam ainda mais fascinado, mas logo iria mudar… Acordando em um certo dia recebe uma triste notícia, os seus pais haviam sofrido um acidente e acabaram morrendo, quando recebeu essa noticia da sua melhor amiga que logo mais tarde iria se torna a sua noiva, ela se chamava  “Elisa”. Em um momento de choque ele simplesmente não mostrou nenhuma reação, nem lágrimas e muito menos uma expressão no seu rosto, apenas ficou parado olhando para o chão em um estado de transe, como se já soubesse que algo de mau tinha acontecido, ao ouvir alguém batendo a porta.
    -E agora vou para onde? -Disse Tomás sussurrando, meio cabisbaixo.
    -Acho que para lugar nenhum, você já não tem mais idade para o orfanato.
    -Então como vou sobreviver?
    -Não sei… -Elisa ficou pensativa por alguns minutos, e quando teve uma ideia não ficou tão feliz assim, pois havia uma grande chance de dar errado, então sem muito animo falou: -Posso tentar convencer o meu pai a deixar você ficar na minha casa, mas eu duvido que ele deixe.
-Sei que ele não gosta muito de mim.
    Ela pensou mais um pouco tendo uma ideia muito boa, e logo em seguida falou  com todo o seu entusiasmo…
    -Por que não vende as suas pinturas, eu posso te ajudar.
    Sem muitas opções Tomás concordou, com  Elisa ficando mais próxima dele, Tomás foi mudando aos poucos o seu jeito de pensar, de ser, e até mesmo se tornou mais simpático, mas isso seria normal, pois ele se tornou um vendedor da sua própria arte. Então depois de varias manhãs acordando para ganhar dinheiro os dias foram passando. E logo esses dias se tornaram  meses e anos, quando se tornou um adulto a sua situação financeira estava notavelmente boa, Elisa ainda estava ajudando.
    Depois de tudo que passaram juntos, ele tomou a decisão mais importante da sua vida, a pedindo em casamento, sem pensar duas vezes a sua amada havia aceitado, porém essa sua alegria não iria durar muito… ao passar do tempo foram começando a surgir boatos cada vez mais absurdos sobre a sua pessoa, isso era normal, mas dessa vez Tomás sentia que algo estava errado, uma sensação  de que alguém estaria conspirando contra ele, as suas vendas foram diminuindo cada vez mais até chegar ao ponto que o seu salário só daria para o alimentar, porém mesmo assim ele não ficou abalado por algo tão banal, sabe havia varias formas de sobreviver.
    Mas em um certo sábado o seu mundo desabou novamente, quando Elisa trazia com sigo a noticia do caos e desespero, Tomás sem ainda saber desceu as escadas abrindo a porta, quando se deparou com ela, sua primeira reação foi colocar um sorriso no rosto, porém percebeu que havia algo de errado pela ausência do costumeiro sorriso na face de Elisa.
    -O que aconteceu? -Perguntou esperando o pior.
    -É o meu pai, ele não vai me deixa casar com você, disse que se eu fizer isso perderei todos os direitos da fazenda.
    Indignado com a situação, desviou o seu olhar um pouco para baixo e depois voltou para o ponto original e falou: -Ele que é o responsável por isso não é? Faz sentido ter espalhado esses boatos, afinal de contas o seu pai sempre me odiou. Na verdade ele sempre odiou a minha familia.
    -Sim isso é possível, mas eu não posso ficar com você, aquela fazenda é a única coisa que a minha família tem por gerações, se isso morrer com o meu  pai, então o sonho dá minha mãe vai junto para o túmulo.
    -Isso é realmente mais importante do que eu?
    Elisa se virou não respondendo, e um momento antes de partir sussurrou “Desculpa, mas não posso fazer isso com você”. De repente uma escuridão começou a engolir enquanto a  via indo embora, apagando Elisa de suas lembranças, inconscientemente fechou a porta, ficando angustiado e paralisado. Olhando para direção da porta de madeira por várias horas, milhares de pensamentos passavam pela sua mente chegando a uma conclusão inacreditável, suspirando Tomás sussurrou para ele mesmo: “Pelo menos agora posso ser eu mesmo. Sim, posso ser eu mesmo! Em seguida sentiu uma sensação de alivio.
    Se passaram alguns meses e os rumores começaram a diminuir lentamente, as vendas de suas artes estavam se estabilizando, porém em seus pensamento nunca mais queria ver  Elisa novamente, e dentro de um ano começou a ficar cada vez mais isolado, sua saúde mental também só piorava chegando ainda mais perto da insanidade, tendo momentos de alucinações, vultos pela casa, pesadelos todas as noites, não o deixando dormir. E em uma certa noite sonhou com um ser de outro mundo, nunca tivera um sonho tão real quanto aquele…
Em sua frente havia um tipo de ser humanoide, melhor dizendo era um demônio com uma aparência de anjo, não tinha chifres e nem uma aparência que o entregasse para esse tipo de denominação, mas a sua aura emanava podridão e mentiras, tentando disfarça tal coisa com sua incrível beleza, dava para perceber a sua verdadeira natureza, como se o próprio Lúcifer tivesse o visitado.
    -Olá Tomás, bom não vou falar o meu nome, pois isso não vem ao caso.
    -Acho que fiquei louco de vez. -Disse com um pouco de ironia.
    -O que é loucura? Já se perguntou isso? Não precisa responder sei que sim. Pegou o violino que estava ao seu lado e apontou para a direita de Tomás, onde derrepente surgiu um Quadro em branco com diversos potes de tintas, depois perguntou com uma certa educação. -Você poderia pegar para mim?
    -É claro.
    Então o ser começou tocar as notas saindo algo totalmente incrível, e também diferente de tudo que ouvira, como se transmitisse sua beleza através daqueles sons, tocando na alma de qualquer um, porém em segundos as coisas começaram ficar ainda mais fascinante. Sim, algo ainda mais incrível havia acontecido, o instrumento simplesmente ficou pousado no ar continuando sozinho com o mesmo ritmo, a criatura desconhecida parecia está inspirado, então começou a pintar, conforme progredia, as melodias começou a ficar cada vez mais complexa, indo muito além da perfeição, parecia haver dois, porém Tomás só via um. Em poucos minutos aquele mesmo quadro estava pronto com o rosto de uma linda mulher emanando toda perfeição que o autor possuía. O azul de seus olhos eram algo fascinante e intimidador. Também havia a cor preta de seus cabelos, carregando algum tipo solidão e um toque de desespero. O amarelo da sua pele era tão suave, parecendo que a qualquer momento iria sair da moldura.
    -Pelo brilho de seus olhos, vejo que você está encantado, com a minha obra de arte.
    -Tenho que fazer a copia perfeita desse quadro fora dos meus sonhos.
    -Acha mesmo que consegue? Infelizmente não, e sabe o por que? Simples você está morto por dentro, não passa de um louco.
    Essa última frase foi tão estranha e assustadora que o Tomás acordou encharcado de suor pelo rosto, sentindo um frio na espinha fazendo vomitar pelo chão do quarto, mas não se importou com a nojeira, cambaleando foi imediatamente replicar a imagem da sua mente ignorando o estado de saúde, porém tudo que conseguiu foi jorrar tinta preta por todo quadro, não fazia sentido mesmo  pegando outras cores aquilo mudava quando tocava a tela, se tornando apenas uma escuridão que era inexplicável, e depois de varias noites, dias de tentativas, sua saúde mental já estava tão debilitada que conseguia falar poucas palavras.
    Elisa preocupada foi a sua casa, é claro que não queria aparecer lá, mas com os boatos dizendo as varias formas de morte, com certeza não podia ignorar algo tão serio, pois também ninguém tinha visto Tomás em lugar nenhum durante meses. Chegando no local deparou com uma cena grotesca e humilhante, sentiu um cheiro tão forte que imediatamente deu ânsia de vomito , também haviam  quadros espalhados por todos os lados. Quadros que não faziam sentido algum, sendo de apenas uma única cor. Cor que transmitia um vazio inexplicável  algo como localização especifica do universo, tão antiga que todos os planetas, sóis e estrelas já se foram há milhares de anos, sobrando apenas o nada. Tomás estava pintando um especifico, entre todos os quadros aquele era diferente, pois supostamente iria ser o mais próximo do seu sonho, transmitia com exatidão o inferno daquele mundo, que algum dia foi cheio de vida e esperança, antes das chamas da loucura tomar tudo para si.
Alguns segundos depois de terminar a sua pintura, percebeu Elisa na porta paralisada.
    -Quanto tempo se passou. Quantos dias? -Disse com um pequeno sorriso no rosto, como se estivesse estranhamente feliz.
    -Um ano, que cheiro é esse?
    -Cheiro? Do que você está falando? -Alguns segundos depois de fazer a pergunta, Tomás fez uma expressão de tanto faz que praticamente dizia: “Ah, não importa”.
    -Está muito melhor do que as outras pinturas, mas está longe de ser perfeito, e mais longe ainda dos meus sonhos.
    -Perfeição? Isso não e nada mais do que a cor preta.
Olhou para ela de uma forma pensativa e afirmou: -Tem razão, porém tem algo de diferente não acha?
    Elisa chegou mais perto do quadro, os seus olhos rapidamente se fixaram por poucos minutos, e conseguiu vê coisas surreais, que nenhuma pessoa conseguiria explicar em palavras, apenas sentir emoções de desespero, angustia e um turbilhão de vozes gritando por “socorro”.  Se assustando caiu de costa, voltando rapidamente para os seus pensamentos normais, aterrorizada com tudo aquilo saiu da  casa de Tomás. Dias depois voltou com algumas pessoas, que o levaram para o hospício, mas qual foi o Destino do quadro? Todos queimaram. Bom pelo menos quase todos, exceto aquele que se destacou, sim esse foi levado para o museu mais próximo, por sorte o antigo dono, já tinha comprado algumas das obras do mesmo artista, de bom grado aceitou outra. Porque Elisa não o queimou também, talvez queria salvar a única coisa que sobrou do Tomás. Ou talvez o Quadro Negro simplesmente mandou não fazer isso. Acho que nunca saberemos os reais motivos, melhor dizendo vocês nunca saberão, pois quando dito mais cedo, “Eu sei de tudo que acontece nesse mundo”.


Autor: Lucas Fernando Oliveira Duarte.
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