Minha Querida Isabel.


      Quanto tempo não vejo, a minha querida Isabel? Anos, meses ou semanas, não foi tanto tempo assim, foram só dias. Dias que pareceram uma eternidade, era como se o tempo estivesse parado, de tão intensa a minha mente estava. Ainda posso me lembrar e senti as suas últimas respirações, todos os meus pesadelos haviam me dominado naquela noite sombria e mórbida, quero muito enterrar essas memorias no fundo da minha consciência, porém quando tento fazer isso algo me diz que: “É impossível esquecer aquilo que está marcado na alma” ...
     Em minha frente via nitidamente a minha esposa ficando pálida, sua respiração estava cada vez mais pesada, enquanto segurava a mão esquerda dela, percebia que os seus olhos ficavam cada vez mais cinza e sem vida, o brilho de sua alma que era tão intenso, já estava quase se apagando por completo, e uma terrível escuridão veio assombrar, e mais cedo ou mais tarde iria devorar o meu espírito também.
     Desde então as minhas noites tem sido perturbada pela Isabel, aquele terrível pesadelo que nunca muda, vem deixando a minha mente doente e debilitada, incapaz de pensar em outra coisa a não ser... É como se o meu tempo estivesse parado em sua morte.
     E esse meu sonho, se é que dá para se chamar assim, me trazia uma sensação diferente, seria paz por saber que há algo além da morte? Alegria por encontrar ela novamente, mesmo sendo uma ilusão? Tristeza por saber que ela nunca mais vai está ao meu lado? Ou o mais provável, fascínio pelos mortos? Era assustador saber que agora iria envelhecer, e morrer nessa casa sozinho, sem filhos ou família para se importar comigo, pois eu não era ninguém, Isabel não era só a minha esposa, mas também uma grande parte de mim, e quando ela se foi não consegui tomar decisões simples, como escovar os dentes, ir para direita ou esquerda, sentar em uma cadeira ou não, eu simplesmente não pensava por conta própria.
     É claro que a ressuscitaria, era a única decisão que conseguia tomar, pois lembrava o quanto a amava, mas para isso eu teria que enfrentar o meu pesadelo, pois sabia que estava tentando dizer alguma coisa...
      A vejo de costas no meu quintal, na mesma noite de sua morte, com o vestido de quando nós se casamos, tinha alguma coisa de errado com ela, mas não sabia o que era, prendia a minha atenção, como se eu estivesse hipnotizado, e percebi que a chuva caia lentamente em sua presença, a deixando ainda mais bela e misteriosa, logo em seguida abrir a porta da frente e fui em sua direção, chegando perto tentei chama-la pelo nome, e quando se virou notei que a sua carne estava podre, dava para ver os malditos vermes saindo de seus olhos, sua pele estava cinza, e desmanchava a cada segundo que se passava, me senti cada vez mais sem energias, até chegar o momento em que me vejo à abraçando, e sinto algo quente  nos meus ombros, depois de alguns segundos, comecei a fechar os meus olhos, e os abrir saindo daquele terrível pesadelo.
      Acordei suando de medo, e apesar de tudo sabia o que isso significava, aquela escuridão que vi alguns dias atrás, estava tentando me engolir e tomar as minhas esperanças.
      Mas não poderia deixar isso acontecer, então em meio ao desespero, fui ao seu tumulo, tinha medo do que encontraria lá, mas mesmo sujo de lama, e encharcado de água me deixando com um frio, tomei coragem para continuar, e comecei a cavar, os trovões logo se mostraram presentes, gritavam de desespero, porém não parei mesmo que lá no fundo do meu coração  soubesse que não era para fazer aquilo.
      Encontrei o que queria, e as minhas mãos gelaram completamente, sentindo um frio na espinha, um raio caiu novamente, fazendo um som tão alto que nunca tinha ouvido algo parecido, e foi o suficiente para me fazer repensar sobre as minhas ações, mas fui teimoso e ignorei esse aviso, e era algo incrível a minha Isabel estava ali, em um estado de perfeição, não havia nenhum inseto nela, e nem mal cheiro, senti um alivio, porém não mudava os fatos, quando percebi tal coisa, a esperança que tinha foi embora junto com a sensação de tranquilidade.
      Sem saber o que fazer, a levei pra casa, e ao longo do caminho os ventos ficavam cada vez mais agitados, e os raios berravam cada vez mais de desespero, as folhas das arvores caiam ao meu redor, como se tivessem marcando o meu caminho, quando cheguei a coloquei no chão, minha respiração começou a pesar, por causa da angustia, que batia como um martelo em meu peito, foi quando as lagrimas começaram a cair, e não demorou muito para a minha mente virar um caos, com medos e demônios tão assustadores que iria fazer o Diabo não passar de uma cobra venenosa.
      Então eu disse em voz alta: “Sem salvação será!? Isabel era tão bela! Por que foi embora? Por que me deixou!?
      Foi então que as memorias boas da vida começaram a vim, como um flashback, desde do dia que nós se conhecemos, até o nosso casamento, mas de repente surgiu uma escuridão, e demorou muito para começar a engolir todas as fotos de lembranças que tinha dentro da minha cabeça, veio em minha direção e começou a tomar lentamente o meu corpo, e quando percebi as minhas pernas estavam cobertas completamente por essa coisa, que não sei explicar em palavras, e quando eu estava preste a ser tomado por completo, uma luz interveio, espantando o manto negro que havia em que eu estava coberto, mesmo esse brilho me cegando, me forcei a olhar, e fui me acostumando aos poucos, e quando percebi... Era ela, é um sonho? Não é real demais para isso, não haviam dúvidas.
      Havia algo de estranho, não era exatamente a minha amada, ainda estava com a pele pálida, mas naquela altura eu não ligava para isso, e abracei, só queria ficar assim por toda a noite, falei com lagrimas escorrendo pelo rosto; —Não acredito! Senti muito a sua falta, esses dias pareceram anos de tortura, mas agora... Senti uma pequena dor, e uma coisa quente no meu ombro, e quando parei de abraça-la, vi que a sua boca estava com sangue, e não tive que pensar muito para saber, que aquele pedaço de carne no chão não ere dela e sim meu.
      Olhando para mim de uma forma totalmente assustadora, ela me deu um sorriso diabólico e falou: —Eu voltei amor!
      Antes de processar as palavras, ela mordeu o meu pescoço, mas não de uma forma que eu morresse rápido, e sim lentamente sufocado. É parece que mortos não voltam a vida, ou melhor voltam sim, porém eles deixam a alma no outro lado, acho que finalmente ficaremos juntos...


Autor: Lucas Fernando Oliveira Duarte
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